Tragédia em Brumadinho
Dói-me o lado esquerdo
do peito.
Por dentro não deixa de correr o lamento intenso e dolorido da
jovem pataxó, olhos rasos de mágoa olhando o rio turvo do vermelho
ferruginoso, a correr sereno e indiferente, pela aldeia índia
aconchegada às suas margens.
Que vai fazer o povo da aldeia sem a água que mata a sede,
banha os corpos, alimenta as plantas e os animais ?
Como vão sobreviver no
rescaldo do mar de lama que desce
inexorável,Por dentro não deixa de correr o lamento intenso e dolorido da
jovem pataxó, olhos rasos de mágoa olhando o rio turvo do vermelho
ferruginoso, a correr sereno e indiferente, pela aldeia índia
aconchegada às suas margens.
Que vai fazer o povo da aldeia sem a água que mata a sede,
banha os corpos, alimenta as plantas e os animais ?
indiferente a tudo o que consome ?
Mais longe, Brumadinho desapareceu na voragem do desabar da
barragem, mal construída, mal conservada, mal vistoriada...
Centenas são os mortos e mais serão na senda dos desaparecidos que
as buscas desvendarão como mortos também.
Feito o luto, voltarão à labuta dos horas, à azafama dos dias em
outra povoação mais aqui ou mais ali na área da Vale onde subsistem
Da aldeia pataxó pouco se irá sabendo no descaso dos dias, na
voragem das decisões.
A Vale, que já foi Vale do Rio Doce, privatizada desde 1997,
mais interessada está em ir atrás do prejuízo,
de manter a exploração ao nível do lucro que nunca parece
bastante a quem recebe dividendos.
Às vezes, perdendo o olhar na lonjura do campo alentejano fico a
pensar o que fará esta gente às montanhas dos lucros que vão
acumulando.
Na certeza que ao fim, a todos será destinado num local qualquer
"sete palmos de terra e um caixão " na voz serena do poeta.
Não há nada mais democrata que a morte.
Texto : Maria Carolina Terra
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