quarta-feira, 30 de janeiro de 2019


Tragédia em Brumadinho


Dói-me  o lado  esquerdo  do  peito.
Por  dentro  não  deixa  de  correr o  lamento intenso  e dolorido  da
jovem  pataxó, olhos  rasos  de  mágoa  olhando o   rio turvo   do  vermelho
ferruginoso, a  correr  sereno  e  indiferente, pela  aldeia  índia
aconchegada    às   suas    margens.
Que  vai  fazer  o  povo  da  aldeia  sem  a  água  que mata  a  sede,
banha  os  corpos, alimenta as  plantas  e  os  animais  ?
Como  vão sobreviver no  rescaldo  do  mar  de  lama que  desce  inexorável,
indiferente a  tudo  o  que  consome ?
Mais  longe, Brumadinho desapareceu   na  voragem do  desabar  da
barragem,  mal  construída, mal  conservada, mal  vistoriada...
Centenas  são  os  mortos e  mais  serão  na  senda  dos  desaparecidos que
as  buscas  desvendarão  como  mortos  também.
Feito  o  luto, voltarão à  labuta  dos horas, à  azafama  dos  dias em
outra  povoação  mais  aqui ou  mais  ali  na  área da Vale  onde subsistem

Da  aldeia  pataxó pouco  se  irá  sabendo  no  descaso  dos dias, na
voragem  das  decisões. 

A  Vale,  que  já  foi  Vale  do  Rio Doceprivatizada  desde  1997, 
mais  interessada  está  em ir  atrás  do prejuízo, 
de  manter a  exploração  ao  nível  do  lucro  que  nunca  parece
bastante  a  quem  recebe  dividendos. 
Às  vezes, perdendo  o  olhar  na  lonjura  do  campo  alentejano  fico  a
pensar  o  que  fará esta  gente  às  montanhas  dos  lucros  que  vão
acumulando.
Na  certeza  que  ao  fim,  a  todos será  destinado  num  local  qualquer 
"sete  palmos  de  terra  e  um  caixão " na  voz  serena   do  poeta.
Não  há  nada  mais  democrata  que  a  morte.


Texto : Maria Carolina Terra


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